Porque Porto Alegre é tão atrasada? Por Percival Puggina.

"Cultura estatista é uma das causas"

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Há cidades onde as coisas acontecem em ritmo frenético. De um dia para outro, rasgam-se novas vias, nascem bairros, surgem praças e atrações. Porto Alegre não é assim, não. Aqui, as coisas se passam ao ritmo das gerações e se arrastam em controvérsias que poriam para dormir um filósofo de Bizâncio.
Exemplo? Nos anos 60, quando cursei arquitetura na UFRGS, já estudávamos o Plano Diretor de Porto Alegre com a previsão de abertura da Terceira Perimetral. Ao trafegar por essa via pela primeira vez, na sua inauguração, meu neto estava comigo no carro. E já era guri quase da minha altura. Outro exemplo? No cruzamento da Nilópolis com a Carazinho, existe, há muitos anos, uma rótula que trava o fluxo em todas as direções, obrigando os motoristas a se deslocarem a não mais de 5 km/h, num congestionamento extenso e desnecessário. Dia após dia. Ano após ano. Nada que o prefeito, qualquer prefeito, não queira resolver logo. Bastaria mexer nuns canteiros e instalar um grupo de sinaleiras. Mas há ali profundas questões filosóficas que mergulham nos subterrâneos da burocracia.
Registro esses dois fatos, entre incontáveis outros, como a Vila Dique, o Muro da Mauá, o metrô, as sucatas de navio abandonadas no cais, o terreno da Corlac, o novo acesso norte da Região Metropolitana, apenas para evidenciar que nossa bela capital tem esse problema de cadência, que se agravou, de uns anos para cá, com o cruzamento de exaustivo assembleísmo com demasias preservacionistas e reacionarismo estatista.
Entendamo-nos, leitor. O bom preservacionismo é responsável pela maior parte das atrações que induzem os fluxos turísticos pelo mundo afora. As pessoas ficam horas dentro de um avião e atravessam os oceanos para visitar os chamados cascos históricos de cidades antigas. Eles estão entre os grandes motores do turismo internacional. Por isso, lamento o quanto Porto Alegre descuidou, durante anos, de seus bens culturais e arquitetônicos.
Se esse zelo é bom, o outro, do tipo que agora temos aqui, é um desastre porque avesso a toda ação humana e à iniciativa privada. O melhor exemplo do que afirmo está na nossa orla. Poucas cidades do mundo desfrutam de posição tão privilegiada quanto Porto Alegre, instalada junto a essa deslumbrante imensidão de água doce que nós chamamos de Guaíba – quer seja rio, lago ou estuário (outra discussão bizantina). Não obstante, a cidade dá-lhe as costas e joga-lhe suas sujeiras, ano após ano, sem que se executem, em ritmo que me permita contemplar, antes de morrer, obras orientadas para o seu embelezamento e aproveitamento. Vontade de fazer não falta, mas, como em Bizâncio, as discussões se arrastam por décadas. O uso turístico e cultural dos antigos armazéns de Puerto Madero, em Buenos Aires, já tem 20 anos. O da Estação das Docas de Belém do Pará, 10 anos. E Porto Alegre leva uma geração discutindo o que fazer com os armazéns e com o Cais Mauá. Quando foi apresentado o penúltimo projeto para a área, houve quem o criticasse pelo “uso privado e elitista de um bem do povo da cidade”. Bem? Que bem? Bem de quem?
Vale o mesmo para o Pontal do Estaleiro. O Estaleiro Só faliu há 14 anos. Tanto se vociferou contra o uso do terreno, que a cidade vai às urnas para decidir, em plebiscito, sobre sabe-se lá o quê! E, enquanto isso, o privilegiado local permanece como depósito de lixo, cultura de macega, campo de pouso de pardal e esconderijo de tuco-tuco.

Uma adição interessante: o Ministério Público do RS quer aumentar sua sede administrativa com mais outro edifício, similar ao atual. Veja as críticas infundadas dos entrevistados pelo jornal JA( não confundir com jornal do almoço, da RBS TV)





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