A importância das escolhas pragmáticas na política

"Na falta do bom, você escolhe entre o ruim ou o péssimo"
 
 
Vou publicar na integralidade aqui o texto de Luciano Ayan, onde ele discorre sobre a importância das escolhas pragmáticas e coerentes na guerra política. Recomendo que você leia atentamente todo o seu blog.
 

O equivocado discurso negacionista contra as opções pragmáticas na política

 
Há mais de uma maneira de negar a política, de acordo com as possibilidades que temos. Uma delas se baseia em negar acordos possíveis com os políticos não diretamente alinhados com o projeto petista – e que, portanto, podem gerar resultados se forem adequadamente pressionados. Sem estes acordos, a alternativa é uma só: uma rebelião “civil”, que obviamente resultaria em colapso das instituições – que já não valem muita coisa mesmo, mas sempre é possível piorar o que já está ruim -, o que poderia gerar resultados imprevisíveis, intencionalmente ou não. Entre estes resultados podemos ter intervenção militar ou guerra civil, ou ambos. Ou qualquer outra coisa nessa linha.
Uma pena é que várias destas pessoas utilizem recursos de prestidigitação, muitas vezes ofensivos à inteligência. Talvez o façam de boa fé, e, neste caso, enganam-se a si mesmos e aos outros.
O leitor Excogitatoris Liberum escreveu:
Cuidado com os “iluminados”, pois são perigosos!
MBL = Movimento Busanfa Livre
Lema do MBL: “Bundas Moles do Brasil! Uni-vos em prol do fabianismo!”
.
As ovelhas do MBL montaram acampamento e acamparam acampantes, aguardando excitadas que seu herói pastor, o FHC (Pacto de Princeton), sacerdote máximo de sua igreja, o PSDB, vá ministrar-lhes um sermão, com boa e magnífica lábia retórica fabiana, soando como música em seus ouvidos delicados e ingênuos. Depois levantarão acampamento felizes e crentes de que suas “ações” caprinas resultarão em grandes benefícios ao Brasil e ao Povo Brasileiro.
Quem for suficientemente trouxa para engordar o movimento do MBL, já aliciado e cooptado pelo PSDB e pelo raposão FHC, então vá acampar com a feliz Molecada Bunda-Lelê “salvadora” do Brasil.
Yeah!
Escrevi, não em perspectiva empolgada, mas niilista, o seguinte:
Desculpe-me, mas eu prefiro a social democracia do PSDB do que o bolivarianismo do PT. Esta é uma BOA OPÇÃO, então. Qual seria a opção alternativa?
Em seguida, ele escreveu essa resposta, a qual explica muita coisa sobre este padrão comportamental:
Você sabe quais são as implicações da “ideologia” dessa tal “social” democracia, Ayan ?
Penso que você deva saber o que é o socialismo fabiano, você sabe ?
Você conhece a história e os feitos do General Romano Caius Fabius, de onde deriva o termo “fabiano” e de cuja filosofia militar advém o socialismo fabiano adotado pelo PSDB, o qual ele denomina com o pomposo nome de “social democracia”?
Você sabe que foi Caius Fabius o inventor da máxima: “Dividir para conquistar”?
Portanto ao dizer que apoia a tal “social” democracia do PSDB você não está se posicionando como um CONSERVADOR e sim como um socialista (esquerdista). É isso então Ayan ?
Você quer uma alternativa? Então vai uma aí:
GREVE GERAL para parar o Brasil até que uma nova estrutura política seja estabelecida.
Para colocar a casa em ordem, limpando-a dos ratos, lacraias e baratas.
Desculpe-me, mas dizer que as coisas irão melhorar pela mera troca de “bandidos”, trocando o PT pelo PSDB, é uma análise simplória e, a meu ver, enganosa, é desconhecer uma importante estratégia esquerdista denominada “ESTRATÉGIA das TESOURAS”, na qual o PSDB é um protagonista importantíssimo.
Você tem todo o direito de acreditar no que quiser e ter sua opinião, mas isso não significa que você esteja CERTO e que sua opinião seja, DE FATO, uma SOLUÇÃO.
Por favor, entenda que esta minha posição não é contra sua PESSOA.
Abraços.
Me parece que ele confirma minha tese: a negação da política tem como fito gerar motivação para ações desenhadas a fim de gerar o colapso de que falei. Por exemplo, se os membros do Executivo, Legislativo e Judiciário forem tirados de lá, seja pela via dos pontapés, seja pela via de pessoas ameaçando se suicidar em frente ao Congresso, haverá evidentemente o colapso, ao fim do qual temos que manter absoluta fé nas pessoas assumindo o poder. Lembro que já foi dito que após esse passo, um “grupo” deveria tomar o poder e estabelecer novas eleições. Mas até que isso aconteça não há outro componente central a ser assumido por nós que não a fé nessas pessoas que tomarem o poder. É uma constatação lógica.
Que, ao menos no caso deste leitor, é esta a proposta, não temos dúvidas. Assim, já sabemos o que ele propõe. E talvez não seja o que muitos querem.
Então vamos ao próximo passo, pois ele me acusa de fazer “análise simplória”, ignorando as máximas do fabianismo e daí por diante. Mas essas máximas não foram ignoradas em momento algum por mim. Eu de fato prefiro um governo do PSDB ao do PT, e muitos que hoje adotam o negacionismo também fizeram campanha por Aécio nas eleições. Será que elas tiraram o fabianismo da mente naquele período? Estranho…
Está claro que esses negacionistas afirmam que se for para trocar o PT pelo PSDB, então é melhor deixar pra lá. A tal “estratégia das tesouras” cuidaria de tudo. Com o PSDB no poder, a esquerda se sustentaria. Mas eis onde encontramos o pulo do gato, que denota o exercício de ilusionismo argumentativo:  o arrefecimento de toda forma de oposição ao esquerdismo é uma premissa inventada, seja na análise do comportamento dos membros do MBL (ou de qualquer variação da direita pragmática), seja na análise comportamental dos próprios negacionistas atuais (que poderiam até deixar de sê-lo no futuro, se recuperarem a esperança na política).
Ninguém aqui disse que abandonaria qualquer luta por causas liberais e/ou conservadoras assim que porventura o PSDB chegasse ao poder. Ou mesmo que o PMDB chegasse lá. É justo que os negacionistas suspeitem. A suspeita é saudável em vários momentos, pois nos torna mais críticos. Mas suspeitar das intenções de alguém, principalmente de um aliado há pouco tempo atrás, não cria automaticamente um fato. E esta não é a alegação mais bizarra. É esta: o resultado será o fim do combate à esquerda em geral, com encerramento de ações não apenas por parte da direita pragmática, como da direita negacionista.
Esperem aí, vamos calma, muita calma nesta hora. Existe realmente um movimento anti-esquerda –  o que é muito saudável – e com o qual eu compartilho diversos interesses em comum. Se algumas pessoas que recentemente ficaram bravas comigo acham que estou contra elas, provavelmente não prestaram atenção no que escrevo: eu estou a favor dessas pessoas em vários pontos e várias lutas, embora discorde de algumas táticas. Contudo, o mínimo que poderíamos esperar é que elas mantivessem sua luta política, criando think tanks e camadas de conscientização em larga escala, no advento de um possível governo tucano ou pmdebista. Para que a premissa (derivada de uma conclusão tirada de não sei onde) de que “o movimento anti-esquerda morre com a saída do PT pelas vias políticas, especialmente se os políticos que os tirarem forem esquerdistas” fosse verdadeira, seria preciso que esses negacionistas estivessem corretos não apenas no que dizem sobre o conteúdo mental (as intenções, no caso) dos “pragmáticos”, mas deles próprios. Façamos uma tradução do que esses negacionistas parecem dizer sobre seu próprio pensamento:
Nós, que rejeitamos qualquer atitude do MBL, do Revoltados Online, do Vem Pra Rua e de todo grupo nesta linha que venha a endossar pedidos de impeachment de esquerdistas, deitaremos na rede logo em seguida à derrota do PT. Daí abandonaremos a política, vamos começar a falar de teatro ou cinema (no máximo), e, por isso, ações que visem solidificar o pensamento direitista ou demolir o pensamento anti-esquerdista vão acabar.
É exatamente isto que essas pessoas querem nos dizer? Eu acho difícil que pensem assim. E, em uma análise mais justa, podemos dizer que essas pessoas vão continuar lutando. Pelo menos deveriam. E eu confio que continuarão fazendo. Assim, não faz sentido algum dizer que a “substituição do PT pelas vias políticas tradicionais, com os meios que temos” vai ajudar a esquerda. Na verdade, a esquerda só vai ser ajudada se esta direita tomar a opção de fazê-lo. Deste jeito, parece que eu confio mais no potencial que essas pessoas possuem de ajudar a solidificar um pensamento de direito do que eles mesmos.
O que eu estou querendo dizer é que, se eles confiam em seus próprios tacos, então deveriam apoiar a derrubada do PT pelas vias políticas. Mas confiar no próprio taco significa dizer – de verdade – que há muito trabalho político pela frente, quer no controle de narrativa, quer na guerra por posições, a ser feito também por este próprio grupo político, como por outros grupos políticos de direita. Se isto é um fato – e eu  espero que seja, pois serão eu me decepcionaria ainda muito mais com este grupo -, então eles não possuem um argumento lógico para negar a luta concentrada contra o impeachment agora. Luta que, se levada a cabo com sucesso, deveria ser sucedida por uma nova série de batalhas na guerra cultural, onde contamos com a ajuda ou até possivelmente o protagonismo dessas pessoas. Se elas realmente acreditam em suas próprias intenções para este tipo de guerra cultural, deveriam saber que substituir o PT é um primeiro passo de uma guerra maior. Mas, se elas não acreditam que podem realmente fazer a diferença neste sentido, então aí, e somente aí, dizer “tanto faz se ficar o PT ou não” passaria a fazer sentido.
E se é isso que eles realmente querem dizer, aí é que temos mais motivos para ficarmos preocupados com as intenções negacionistas. Mas, como já disse, não acredito que eles queiram levar este argumento à frente. Então, propor qualquer abandono das lutas políticas atuais (e prioritárias) em nome de um medo de “auxílio ao esquerdismo” é um argumento ruim, por se basear em uma premissa falsa.
 
 


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