A elitização de TUDO, ou: Reflexão lógica sobre livre mercado

"Coisas baratas repentinamente ficam caras"



Na segunda metade para o final da década passada, um refrigerante 2 litros era algo relativamente barato. Com três reais era possível comprar uma Coca-Cola gelada em grandes mercados e até mercadinhos. Hoje, a mesma está cotada a 5 reais quente no Walmart, uma grande rede.
Eu poderia dar mais exemplos aqui, mas me atentarei neste em especial.

O exemplo do refrigerante:
Foto tirada em 25/04/2016 em um posto em frente da EsBO Silva Só- PoA

As causas para que um produto suba seu preço estão ligadas principalmente à oferta/demanda do mesmo e também o controle de preços disfarçado que o Estado exerce. Nem sempre é este o caso.
Em 2010-11, na cidade de São Borja, os sorvetes estavam muito caros. Um pote de 2kg( ou 2l) estava cotado a 14 reais, nunca muito abaixo, mas sempre bem acima, chegando a custar até 16 reais pelo mesmo produto em mercados diferentes.
A explicação não era escassez, pois não faltava. Nem mesmo imposto, pois não houve aumento. O que seria então?
Esperteza. O forte calor, perto de 45ºC na sombra e sensação superior aos 50ºC, fez a procura disparar. Havia fartura de sorvete, mas o preço foi artificialmente inflado por causa da demanda porque subitamente o sorvete, por mais vagabundo que fosse, virou um produto valorizado e exclusivo, mais ou menos quando você deixa para comprar coisas na última hora.
E não para por aí. A Coca-Cola mais do que triplicou de preço nos mercados de bairro, saltando de 3 para 9(isso mesmo, NOVE) reais a garrafa de 2l, gelada. As pessoas fugiram para o refresco, mais barato que o sorvete, mas o problema voltou a acontecer.
E a facada continua inclusive para refrigerantes mais baratos, que passaram de R$1,50 para R$4,00 no comércio ou até mesmo R$8,00 em um restaurante. Nestes locais, havia quem cobrasse a bagatela de R$12,00 pela Coca-Cola de 2 litros gelada. Ora, naquela época, 1l de gasolina aditivada custava R$2,85 na cidade(posto barato, bandeira BR). A mesma quantia de Coca-Cola, um bem renovável, custaria então de R$1,50(preço anterior) para até R$6,00!
Mas como os vendedores não faliram? Preços semelhantes. Onde quer que você fosse, os valores eram sempre iguais ou superiores aos que falei. Como não havia escolha, as pessoas que realmente desejavam tomar um copo de Coca-Cola eram obrigadas a pagar valores exorbitantes ou ficar sem. Uma análise puramente lógica e sem apegos mostraria que os consumidores foram burros ao extremo. Livre mercado no Brasil é uma ideia que não funcionaria com um povo embrutecido que aceita qualquer coisa por um preço irreal(Vide Carros e imóveis), ou ainda, onde os vendedores livremente criassem uma "tabela de preços" por algo.
De maneira alguma cabe ao Estado intervir, o que elevaria os preços. As coisas possuem um valor subjetivo, e também objetivo. Se uma Coca-Cola é vendida num valor superior ao da Gasolina, um combustível fóssil que passa por etapas de produção muito mais complexas e custosas, cabe ao consumidor julgar o que prefere, se dar 12 reais por aquilo, ou guardar estes 12 reais para fazer qualquer outra coisa.
Nada de babaquices tipo "a Coca-Cola é o refri do povo"," Bolsa Coca-Cola", "Coca-Cola de 100ml a 2 reais".
O exemplo da coca-cola se aplica a basicamente tudo no país hoje. Quem tenta economizar, por exemplo, fazendo a reforma da casa com as próprias mãos, inevitavelmente gastará um valor altíssimo com tintas, bases, solventes e massas. Quer fazer um roupeiro? A madeira está caríssima.
Um outro exemplo do eterno país do futuro é o costume que há de se valorizar coisas que em qualquer outro país do mundo são simples. Um cachorro quente, por exemplo, uma refeição de POBRE, também está irreal. As justificativas mais modernas são de que se tratam de comidas nobres, gourmet, da moda. Food Trucks, uma ideia americana que se espalhou mundo afora como sinônimo de comida barata e confiável, chega no Brasil como algo fino e sofisticado(!), quando não passa da evolução natural das tradicionais bestas ou Topics que vendiam cachorro quente em qualquer esquina nos anos 90.
Não sou contra a criação de categorias de mercado voltadas a nichos, o problema é quando tudo é questão de nicho ao se pagar por uma coisa POBRE E SIMPLES como uma Coca-Cola ou um cachorro quente, ou ainda uma tinta fosca vagabunda.
Fica para a reflexão das pessoas, reforçando que de maneira alguma defendo intervenção estatal para resolver um problema que é basicamente entre vendedores e consumidores.

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